Amores, ditaduras, mentiras, feminino e feminismo.

Diário de pesquisa da atriz Aline Fonseca, para cenas de um projeto entitulado inicialmente como "Antes do Amor".
Aqui estão filmes, livros, poemas, canções, artigos e outras fontes que servirão de referência para uma criação cênico-poética.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Marighella



"O Marighella dizia assim: 'Olhe, vê como é que você sai na rua.' ... Ai eu me maqueava, maqueava todinha, com creme quase marrom, bege. Usava peruca, pra poder me mover na rua. Ah e outra coisa, não podia rir. Isso é que era incrível. Ele um dia disse pra mim assim:
- Você sabe que você não pode rir na rua né?
- Por que?
- Porque você tem um jeito característico. Olhou pra você se você rir, vão saber que é você.
Você imagina: Não podia nem rir."

(1h22m0s)

domingo, 9 de março de 2014

Metal e sonho - Pedro Tierra

Organizar a esperança,
Conduzir a tempestade
Romper os muros da noite,
Criar sem pedir licença
Um muro de liberdade.
Trabalhar a dor, trabalhar o dia,
Trabalhar a flor, irmão!
E a coragem de acender a rebeldia!
Convocar todos os sonhos
E as mãos das companheiras
Feitas de espera e de flor,
Tecendo nossas bandeiras
Na trama de cada dor.
Retomamos a memória,
Na batalha das cidades
Empunhamos nossa história
Já não há quem nos detenha
Nós somos a tempestade.

sábado, 8 de março de 2014

Acorda Amor - Julinho de Adelaide (Chico Buarque)

Acorda amor
Eu tive um pesadelo agora
Sonhei que tinha gente lá fora
Batendo no portão, que aflição
Era a dura, numa muito escura viatura
minha nossa santa criatura
chame, chame, chame, chame o ladrão
Acorda amor
Não é mais pesadelo nada
Tem gente já no vão da escada
fazendo confusão, que aflição
São os homens, e eu aqui parado de pijama
eu não gosto de passar vexame
chame, chame, chame, chame o ladrão
Se eu demorar uns meses convém às vezes você sofrer
Mas depois de um ano eu não vindo
Ponha roupa de domingo e pode me esquecer
Acorda amor
que o bicho é bravo e não sossega
se você corre o bicho pega
se fica não sei não
Atenção, não demora
dia desses chega sua hora
não discuta à toa, não reclame
chame, clame, clame, chame o ladrão.

sexta-feira, 7 de março de 2014

ZOOLÓGICO HUMANO - Alex Polari Alverga

o que somos
é algo distante
do que fomos

ou pensamos ser.
Veja o mundo:
ele se move
sem nossa interferência
veja a vida:
ela prossegue
sem nossa licença
veja sua amiga:
ela se comove
por outros corpos
que não o seu.

Somos simplesmente
o que é mais fácil ser:
lembrança
sentimento fóssil
referência ética
apenas um belo ornamento
para a consciência dos outros.

A quem interessar possa:
Estamos abertos à visitação pública
sábados e domingos
das 8 às 17 horas.

Favor não jogar amendoim.

quinta-feira, 6 de março de 2014

quarta-feira, 5 de março de 2014

AMAR EM APARELHOS - Alex Polari Alverga

Era uma coisa louca
trepar naquele quarto
com a cama. suspensa
por quatro latas
com o fino lençol
todo ele impresso
pelo valor de teu corpo
e a tinta do mimeógrafo.

Era uma loucura
se- despedir da coberta
ainda escuro
fazer o café
e a descoberta
de te amar
apesar dos pernilongos
e a consciência
de que a mentira
tem pernas curtas.

Não era fácil
fazer o amor
entre tantas metralhadoras
panfletos, bombas
apreensões fatais
e os cinzeiros abarrotados
eternamente com o teu Continental,
preferência nacional.

Era tão irracional
gemer de prazer
nas vésperas de nossos crimes
contra a segurança nacional
era duro rimar orgasmo
com guerrilha
e esperar um tiro
na próxima esquina.

Era difícil
jurar amor eterno
estando com a cabeça
à prêmio
pois a vida podia terminar
antes do amor.